sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Corpos das três vítimas de explosão no Centro do Rio são enterrados (Postado por Lucas Pinheiro)

Sob clima de muita emoção e revolta, as três vítimas da explosão em uma lanchonete no Centro do Rio foram enterradas na tarde desta sexta-feira (14). No acidente, outras 17 pessoas ficaram feridas, sendo que quatro delas seguem internadas, três em estado grave.

Parentes e amigos próximos participaram do enterro do chefe de cozinha Severino Antônio Tavares, de 45 anos, no Cemitério do Murundu, em Realengo, na Zona Oeste. Ele foi considerado um herói pela família.

Funcionários do restaurante contaram que ao sentir forte cheiro de gás, ele impediu que outros funcionários entrassem na loja, chegou a sair, mas voltou à loja para tentar conter o vazamento.

"A dor que fica é muito grande, mas a lembrança que tenho é de um pai herói. Fica também a indignação de saber que isso não era para ter acontecido, que o restaurante não tinha autorização para funcionar. Agora, é entregar nas mãos de Deus e esperar Justiça. O dono do restaurante não poderia ter feito o que fez. O culpado, ou culpados, tem de prestar conta disso. Ele era um pai honesto, um homem bom, um trabalhador, um guerreiro, muito família. Nunca comentou problema algum. Mas soubemos que esta não foi a primeira vez que ele teve de desligar o gás por causa de problemas no restaurante. Ele não contava nada em casa para não nos preocupar. Ele era um guerreiro", disse o filho Anderson Santiago Tavares.

"Ele foi um herói. Mas infelizmente aconteceu isso. Ele nunca comentou sobre problemas com gás no restaurante. O gesto dele, de impedir que outros entrassem no restaurante e morressem foi perfeito. Naquele momento, ele foi iluminado por Deus. Ele tinha um coração muito bondoso e protegeu o pessoal", disse o primo de Severino, Edmilson Tavares, destacando que ele trabalhou 14 anos num restaurante na Lagoa, na Zona Sul, e que estava há pouco mais de um ano no local na Praça Tiradentes.

Considerado pela sobrinha Elaine do Nascimento Tavares, um homem muito religioso e temente a Deus, ela contou que o tio jamais fumou. Ela soube da versão contada na delegacia que ele teria entrado no restaurante fumando, o que poderia ter provocado a explosão.

"A família toda é evangélica. Nunca que ele estaria fumando", disse a jovem.

O corpo de Josimar dos Santos Barros, de 22 anos, sushiman da lanchonete, foi enterrado no Cemitério de Jacarepaguá, no Pechinha, na Zona Oeste. Aos gritos de "Justiça!", parentes e amigos deixaram o cemitério. Flores brancas e camisas do Flamengo, time de Josimar, foram colocadas sobre o caixão. Os amigos do jovem vestiam camisetas com a foto de Josimar e a frase "Valeu a pena". No verso da roupa estava estampado a letra da música "Pescador de ilusões", do grupo O Rappa.

Como última homenagem, os amigos de Josimar cantaram o refrão da canção: "Valeu a pena/Êh! Êh!/Valeu a pena/Êh! Êh!/Sou pescador de ilusões/Sou pescador de ilusões...".

Bastante abalado, o primo de Josimar, Tiago Cosme, disse que a família analisa entrar com uma ação na Justiça contra o dono da lanchonete, Carlos Rogério do Amaral. Ele afirmou ainda que em nenhum momento a mãe de Josimar recebeu um telefonema de conforto dos proprietários.

Revolta marca enterro de jovem

No início da tarde, o sepultamento do jovem Matheus Macedo, de 19 anos, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio, transcorreu em clima de muita revolta e foi acompanhado por cerca de 200 pessoas, segundo funcionários do cemitério.

Ele trabalhava em um posto bancário dentro do quartel central dos bombeiros, informaram parentes.

Em um discurso emocionado, chorando muito, o pai de Matheus, Carlos Henrique Macedo de Andrade exclamou: "Rio Antigo, todo mundo fala do Rio Antigo. Mas o Rio Antigo está caindo aos pedaços. Só se fala em Copa do Mundo. Agora está aí, mais uma vítima do descaso das autoridades".

A avó materna do rapaz passou mal durante o velório. A mãe da vítima chegou ao cemitério numa cadeira de rodas, sem forças para andar. Já a irmã do jovem, Natália, de 13 anos, não teve condições de ir ao velório.

Viviane Stutz, prima de Matheus, disse durante o velório, que o que aconteceu foi uma tragédia anunciada que só será investigada porque houve vítimas. De forma irônica, ela disse que vão achar um culpado. "Vão encontrar um bode expiatório. Os verdadeiros culpados são os que deveriam fiscalizar".

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