Corpo de vítima de explosão no Centro é enterrado em clima de comoção (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)
O corpo de José Roberto da Silva Faria, de 28 anos, a quarta vítima da explosão em um restaurante no Centro do Rio, foi enterrado em clima de comoção, na tarde desta quinta feira (20). Muito abalados parentes e amigos não permitiram a aproximação da imprensa durante o velório. O funeral aconteceu no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio.Ainda muito assustada a cozinheira Ângela Rodrigues, que ajudou a criar José Roberto, mas que não trabalhava no restaurante, disse que é preciso investigar o que aconteceu.
Enterro da quarta vítima da explosão
(Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)
“Alguma coisa está muito errada e não foi culpa do empregador. Essa história do alvará tem que ser esclarecida. Se tudo estivesse certo, nada disso tinha acontecido”, disse a vizinha de José Roberto há 24 anos na Rocinha, na Zona Sul do Rio.(Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)
Ângela contou que José Roberto era um homem reservado e tímido, e que nunca tinha reclamado do trabalho. Ao contrário, estava feliz por estar trabalhando com carteira assinada e poder proporcionar uma vida melhor para a filha pequena. Ele trabalhava há três meses no restaurante.
A Secretaria de Ordem Pública do Rio enviou uma nota sobre o alvará do restaurante. "O Restaurante Filé Carioca tinha alvará provisório emitido em agosto de 2008. Na época da emissão do alvará, a legislação não exigia a apresentação do Certificado do Corpo de Bombeiros. O documento do Corpo de Bombeiros só passou a ser exigido em 18 de setembro de 2008. E a Coordenação de Licenciamento e Fiscalização faz a análise documental para emissão do alvará e não fiscaliza questões relacionadas à segurança."
“Ele era um homem bom, um bom marido, um pai preocupado com o futuro da filha. Antes bandido saía de casa e ninguém sabia se voltava, polícia saía para trabalhar e não sabia se voltava. Agora, isso acontece com qualquer trabalhador: ele saiu, deu um beijo na mulher, deixou a filha na casa da minha comadre e não voltou. Acabou, não sobrou nada. Dói muito ver como tudo aconteceu. Alguma coisa tem de ser feita. Há algo de muito errado nisso tudo. Também trabalho em cozinha e vivo muito assustada”, disse Ângela, que pediu paz e força para a família durante o enterro.
Muito transtornada, a mulher de José Roberto, perguntava a todo instante porque Deus tinha feito isso com ela, e se despediu dizendo que o amava muito.
O mototaxista Alexandre Moraes, o Caroço, contou que José Roberto tinha trocado de emprego para dar mais conforto à família.
“Ele era um cara muito tímido e trabalhador. Tinha boca, mas não falava. Era um cara tranquilo e que estava feliz porque agora tinha benefícios e poderia cuidar melhor da mulher e da filha. Aí acontece isso. A gente nem sabe explicar.
José Roberto estava internado no CTI do Hospital Souza Aguiar, no Centro, e morreu no início da tarde de quarta-feira (19). Duas vítimas permanecem internadas em estado grave. Uma jovem de 18 anos está no Souza Aguiar e um homem de 46 anos no Hospital Miguel Couto, na Zona Sul. A explosão aconteceu no dia 13 de outubro e deixou 4 mortos e 16 feridos.
Segundo a Secretaria municipal de Saúde, um dos feridos, que estava em observação, teve alta do Hospital Souza Aguiar na terça-feira (18). Ele seria o gerente do restaurante.
Fiscais são ouvidos
Na quarta-feira (19), o delegado Antônio Bonfim, da 5ª DP (Mem de Sá) responsável pelas investigações, disse que dois fiscais da Secretaria municipal de Fazenda foram ouvidos. Além deles, um representante da SHV, empresa que alugava e substituía os cilindros de gás, também prestou depoimento à polícia.
Segundo o delegado, os fiscais alegaram que não havia irregularidade no alvará provisório do restaurante, já que baseados numa resolução, poderiam ser feitas ate três prorrogações sucessivas de alvará, sendo cada uma pelo período de 180 dias.
O delegado disse ainda que, com a morte da quarta vítima, a situação dos responsáveis pela tragédia vai se agravar. A policia espera ouvir na quinta feira (20) dois técnicos da SHV que teriam abastecido os cilindros de gás do restaurante no dia 11 de outubro.
Para Bonfim, a investigação sobre a explosão está perto do fim. De manhã, a polícia reuniu as últimas provas para a conclusão do inquérito. Por volta das 9h, equipes foram ao local da explosão checar informações técnicas sobre as instalações dos cilindros de gás.
“Agora é o momento de comprovar as teorias, mas já temos nossa opinião sobre o caso, que está na fase final de investigação”, afirmou na quarta-feira.
As escavações, que estão sendo acompanhadas no local por um perito da Polícia Civil, já chegaram ao local onde seria a cozinha do restaurante. O trabalho nesta área está sendo realizado manualmente, de acordo com orientações do delegado para que materiais que sirvam de prova sejam preservados. O trabalho de retirada do entulho deve ser concluído até esta quinta-feira (20).
De acordo com o delegado, o dono do restaurante tinha conhecimento sobre a proibição do uso de gás no local. “Ele tinha consciência de que aquela situação era irregular, porque era um local que ninguém podia acessar. (...) Ela não conseguiu até hoje a autorização dos bombeiros porque ele não tinha a planta que descrevia as instalações do lugar”, explicou.
Segundo ele, o prazo para a entrega dessa planta ia expirar no dia 28 deste mês.
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