Horas após ser solto nesta quarta-feira (21), o coronel da Polícia Militar, Djalma Beltrami, desabafou e disse que é inocente. “Eu nunca recebi propina na minha vida”, disse o comandante do 7º BPM (São Gonçalo), na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Ele havia sido preso, sob suspeita de chefiar um esquema de corrupção, que recebia de traficantes R$ 160 mil por mês. Outros 10 PMs também foram presos suspeitos de participar do grupo.
O plantão judiciário do Tribunal de Justiça (TJ-RJ) concedeu o habeas corpus do comandante nesta madrugada. A decisão foi do desembargador Paulo Rangel. Na sentença, ele criticou a atuação do delegado da Divisão de Homicídios de Niterói, Alan Luxardo, e do juiz de São Pedro da Aldeia, que autorizou a prisão.
Na decisão, o desembargador declarou: "Estão brincando de investigar. Só que esta brincadeira recai,(..) nas costas de um homem que, até então, é sério, tem histórico na polícia de bons trabalhos prestados e vive honestamente". O magistrado também determinou que o nome de Beltrami seja retirado da investigação até que novos elementos apareçam.
O coronel deixou o Quartel General da Polícia Militar por volta das 4h, num carro particular. Ele ficou numa sala do QG por cerca de 44 horas.
Envolvimento de PMs
Em sua primeira entrevista em liberdade, o comandante falou: “Eu nunca recebi propina na minha vida, eu nunca participaria de nenhum esquema dessa natureza, porque em 27 anos de polícia, a minha história dá esse resultado, e eu nunca mandei ninguém falar por mim ou iria mandar alguém falar por mim”, argumentou o coronel sobre a gravação divulgada pela Polícia Civil, que mostrariam conversas entre traficantes e PMs do quartel de São Gonçalo. Nas conversas há referências ao pagamento de propina ao 01, que segundo o delegado Alan Luxardo, que comandou as investigações, seria o coronel Djalma Beltrami.
O comandante também negou que tivesse conhecimento da participação de policiais do 7º BPM (São Gonçalo) no esquema de propina.
“Não, eu não tenho essa informação. O meu trabalho sempre foi especificamente a nível operacional no batalhão. Se chegar ou se tivesse chegado alguma informação específica dessa natureza, todos os procedimentos teriam sido tomados. Eu disponibilizo qualquer coisa que for preciso, já coloquei isso às autoridades, que estão na apuração. Eu moro de aluguel na Baixada Fluminense, eu tenho um carro, minha esposa tem outro carro, eu não tenho nada a esconder, eu nunca fiz nada errado. Estou muito convicto disso, por isso, eu consigo colocar a minha cabeça no travesseiro e ficar tranquilo”, finalizou Beltrami.
'Zero um'
Segundo o TJ-RJ, em sua decisão, o desembargador Paulo Rangel destacou que a prisão temporária foi decretada sem que tivesse sido observado o teor das transcrições da interceptação telefônica, entendendo que “zero um” só poderia ser o comandante do 7º BPM.
“A autoridade policial não cumpriu com a lei ao elaborar relatório conclusivo da investigação e sim deu a sua versão sobre os fatos. E aqui está o perigo: a versão da autoridade policial colocou, até então, um inocente na cadeia. Quem irá reparar o mal sofrido pelo paciente? Quem irá à sua casa dizer à sua família que houve ou um açodamento, ou um grave erro ao se concluir que ‘zero um’ pode ser o Comandante Geral, pode ser o Prefeito, pode ser o amigo do policial que está no comando da guarnição, enfim... ‘zero um’ pode ser qualquer pessoa”, afirmou.
Na segunda-feira, o delegado Alan Luxardo disse: "Nós temos provas de que esse esquema funcionaria após a gestão dele, então isso está comprovado tanto por interceptações telefônicas e outros meios de prova, e em relação a isso, não há o que se discutir", falou.
O atual comandante-geral da Polícia MIlitar, Erir da Costa Filho, ainda não se pronunciou sobre a prisão de Djalma Beltrami.
Onze PMs presos
Na segunda-feira (19), onze policiais militares foram presos durante a operação "Dezembro Negro", comandanda pela Divisão de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
No mesmo dia, outras sete pessoas foram presas suspeitas de participarem do tráfico de drogas do Morro da Coruja, em São Gonçalo. Neste grupo, segundo o delegado Alan Luxardo, há três menores. O delegado afirmou, ainda, que alguns traficantes que atuam na comunidade fugiram do Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, após ocupação em 2010.
Na operação também foram apreendidos cinco quilos de maconha, sacolés de cocaína, um radiotransmissor e um revóler calibre 38.
Escuta
Os dois interlocutores da escuta telefônica fazem referência a uma pessoa conhecida como "zero um" que, segundo a investigação, seria o comandante Djalma Beltrami. As patrulhas da PM são tratadas de "gêmeas”. No entanto, o comandante Beltrami não aparece em nenhuma conversa gravada pela polícia. Veja o diálogo:
Policial: “Só que também vai ter que levantar, aumentar aquele negócio, porque tem gente, rapaziada mais alta chegando, vai ser tudo, tudo com a gente, entendeu? Vai ser tudo com este telefone que você tá falando aí, tudo com o 'zero um', entendeu?”
Traficante: “Olha só, eu quero perder pra vocês, entendeu. E perder pro cara que assumiu agora, eu tenho condições de dar 10 pra ele por semana, entendeu?”
Policial: “10 pra, pra... Tem que ser pra cada "gêmea", por final de semana”
Traficante: “Como é que vou dar 10 pra 'tú'? E depois tem que dar tanto pras outras "gêmeas"?
Tá louco, aí eu morro, fico na 'bola', a boca não é minha, não, cara”.
Além das escutas, a investigação também teve por base imagens de circuito interno de um posto de gasolina, e do GPS de duas viaturas do GAT. “Cruzando-se a informação dos investigadores, que deslocados visualizaram a negociação, com as imagens do posto de gasolina e com os dados dos GPS, chegou-se à conclusão de que os militares que integravam aquelas guarnições negociaram e receberam o dinheiro sujo”, disse o promotor Tulio Caiban.
Comandante é ex-juiz de futebol
Beltrami comandou equipes em momentos de grande repercussão, como o massacre da escola de Realengo, na Zona Oeste, em abril, quando 12 crianças foram mortas. Mas o comandante ganhou fama numa carreira paralela a de policial, nos gramados: durante 22 anos ele foi juiz de futebol.
De acordo com o Globoesporte.com, Beltrami, paulista de 45 anos, fez parte do quadro de árbitros da Ferj de 1989 a 2011, quando se aposentou por idade em maio. Também era dos quadros da CBF (1995 a 2010) e da Fifa (2006 a 2008).
Durante investigações de assassinatos relacionados ao tráfico de drogas, agentes descobriram a corrupção policial. Os PMs receberiam propina de R$ 160 mil por mês.
Investigações começaram há 7 meses
As investigações, que começaram há sete meses, apuravam o tráfico de drogas na Região dos Lagos. Segundo a Polícia Civil, as drogas saíam de favelas como Parque União, Manguinhos e Nova Holanda, no subúrbio, e seguiam para o Morro da Coruja, em São Gonçalo. PMs recebiam propina para não reprimir a chegada dos entorpecentes à comunidade. De lá, as drogas eram levadas para São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos.
De acordo com a Polícia Civil, agentes visavam cumprir também 11 mandados de prisão contra suspeitos de tráfico no Morro da Coruja, em Neves, além de outros nove de busca e apreensão, expedidos pela Justiça. Na chegada à comunidade, houve troca de tiros e um suspeito morreu.
Djalma Beltrami assumiu o 7º BPM após a prisão do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, acusado de envolvimento na morte da juíza Patrícia Acioli. Patrícia foi executada com 21 tiros ao chegar em casa, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, em agosto. Ao todo, 11 PMs foram denunciados pelo Ministério Público como participantes da morte da magistrada. O tenente-coronel e um tenente foram transferidos na semana passada para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).
Ele havia sido preso, sob suspeita de chefiar um esquema de corrupção, que recebia de traficantes R$ 160 mil por mês. Outros 10 PMs também foram presos suspeitos de participar do grupo.
O plantão judiciário do Tribunal de Justiça (TJ-RJ) concedeu o habeas corpus do comandante nesta madrugada. A decisão foi do desembargador Paulo Rangel. Na sentença, ele criticou a atuação do delegado da Divisão de Homicídios de Niterói, Alan Luxardo, e do juiz de São Pedro da Aldeia, que autorizou a prisão.
Na decisão, o desembargador declarou: "Estão brincando de investigar. Só que esta brincadeira recai,(..) nas costas de um homem que, até então, é sério, tem histórico na polícia de bons trabalhos prestados e vive honestamente". O magistrado também determinou que o nome de Beltrami seja retirado da investigação até que novos elementos apareçam.
O coronel deixou o Quartel General da Polícia Militar por volta das 4h, num carro particular. Ele ficou numa sala do QG por cerca de 44 horas.
Envolvimento de PMs
Em sua primeira entrevista em liberdade, o comandante falou: “Eu nunca recebi propina na minha vida, eu nunca participaria de nenhum esquema dessa natureza, porque em 27 anos de polícia, a minha história dá esse resultado, e eu nunca mandei ninguém falar por mim ou iria mandar alguém falar por mim”, argumentou o coronel sobre a gravação divulgada pela Polícia Civil, que mostrariam conversas entre traficantes e PMs do quartel de São Gonçalo. Nas conversas há referências ao pagamento de propina ao 01, que segundo o delegado Alan Luxardo, que comandou as investigações, seria o coronel Djalma Beltrami.
O comandante também negou que tivesse conhecimento da participação de policiais do 7º BPM (São Gonçalo) no esquema de propina.
“Não, eu não tenho essa informação. O meu trabalho sempre foi especificamente a nível operacional no batalhão. Se chegar ou se tivesse chegado alguma informação específica dessa natureza, todos os procedimentos teriam sido tomados. Eu disponibilizo qualquer coisa que for preciso, já coloquei isso às autoridades, que estão na apuração. Eu moro de aluguel na Baixada Fluminense, eu tenho um carro, minha esposa tem outro carro, eu não tenho nada a esconder, eu nunca fiz nada errado. Estou muito convicto disso, por isso, eu consigo colocar a minha cabeça no travesseiro e ficar tranquilo”, finalizou Beltrami.
'Zero um'
Segundo o TJ-RJ, em sua decisão, o desembargador Paulo Rangel destacou que a prisão temporária foi decretada sem que tivesse sido observado o teor das transcrições da interceptação telefônica, entendendo que “zero um” só poderia ser o comandante do 7º BPM.
“A autoridade policial não cumpriu com a lei ao elaborar relatório conclusivo da investigação e sim deu a sua versão sobre os fatos. E aqui está o perigo: a versão da autoridade policial colocou, até então, um inocente na cadeia. Quem irá reparar o mal sofrido pelo paciente? Quem irá à sua casa dizer à sua família que houve ou um açodamento, ou um grave erro ao se concluir que ‘zero um’ pode ser o Comandante Geral, pode ser o Prefeito, pode ser o amigo do policial que está no comando da guarnição, enfim... ‘zero um’ pode ser qualquer pessoa”, afirmou.
Na segunda-feira, o delegado Alan Luxardo disse: "Nós temos provas de que esse esquema funcionaria após a gestão dele, então isso está comprovado tanto por interceptações telefônicas e outros meios de prova, e em relação a isso, não há o que se discutir", falou.
O atual comandante-geral da Polícia MIlitar, Erir da Costa Filho, ainda não se pronunciou sobre a prisão de Djalma Beltrami.
Onze PMs presos
Na segunda-feira (19), onze policiais militares foram presos durante a operação "Dezembro Negro", comandanda pela Divisão de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
No mesmo dia, outras sete pessoas foram presas suspeitas de participarem do tráfico de drogas do Morro da Coruja, em São Gonçalo. Neste grupo, segundo o delegado Alan Luxardo, há três menores. O delegado afirmou, ainda, que alguns traficantes que atuam na comunidade fugiram do Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, após ocupação em 2010.
Na operação também foram apreendidos cinco quilos de maconha, sacolés de cocaína, um radiotransmissor e um revóler calibre 38.
Escuta
Os dois interlocutores da escuta telefônica fazem referência a uma pessoa conhecida como "zero um" que, segundo a investigação, seria o comandante Djalma Beltrami. As patrulhas da PM são tratadas de "gêmeas”. No entanto, o comandante Beltrami não aparece em nenhuma conversa gravada pela polícia. Veja o diálogo:
Policial: “Só que também vai ter que levantar, aumentar aquele negócio, porque tem gente, rapaziada mais alta chegando, vai ser tudo, tudo com a gente, entendeu? Vai ser tudo com este telefone que você tá falando aí, tudo com o 'zero um', entendeu?”
Traficante: “Olha só, eu quero perder pra vocês, entendeu. E perder pro cara que assumiu agora, eu tenho condições de dar 10 pra ele por semana, entendeu?”
Policial: “10 pra, pra... Tem que ser pra cada "gêmea", por final de semana”
Traficante: “Como é que vou dar 10 pra 'tú'? E depois tem que dar tanto pras outras "gêmeas"?
Tá louco, aí eu morro, fico na 'bola', a boca não é minha, não, cara”.
Além das escutas, a investigação também teve por base imagens de circuito interno de um posto de gasolina, e do GPS de duas viaturas do GAT. “Cruzando-se a informação dos investigadores, que deslocados visualizaram a negociação, com as imagens do posto de gasolina e com os dados dos GPS, chegou-se à conclusão de que os militares que integravam aquelas guarnições negociaram e receberam o dinheiro sujo”, disse o promotor Tulio Caiban.
Comandante é ex-juiz de futebol
Beltrami comandou equipes em momentos de grande repercussão, como o massacre da escola de Realengo, na Zona Oeste, em abril, quando 12 crianças foram mortas. Mas o comandante ganhou fama numa carreira paralela a de policial, nos gramados: durante 22 anos ele foi juiz de futebol.
De acordo com o Globoesporte.com, Beltrami, paulista de 45 anos, fez parte do quadro de árbitros da Ferj de 1989 a 2011, quando se aposentou por idade em maio. Também era dos quadros da CBF (1995 a 2010) e da Fifa (2006 a 2008).
Durante investigações de assassinatos relacionados ao tráfico de drogas, agentes descobriram a corrupção policial. Os PMs receberiam propina de R$ 160 mil por mês.
Investigações começaram há 7 meses
As investigações, que começaram há sete meses, apuravam o tráfico de drogas na Região dos Lagos. Segundo a Polícia Civil, as drogas saíam de favelas como Parque União, Manguinhos e Nova Holanda, no subúrbio, e seguiam para o Morro da Coruja, em São Gonçalo. PMs recebiam propina para não reprimir a chegada dos entorpecentes à comunidade. De lá, as drogas eram levadas para São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos.
De acordo com a Polícia Civil, agentes visavam cumprir também 11 mandados de prisão contra suspeitos de tráfico no Morro da Coruja, em Neves, além de outros nove de busca e apreensão, expedidos pela Justiça. Na chegada à comunidade, houve troca de tiros e um suspeito morreu.
Djalma Beltrami assumiu o 7º BPM após a prisão do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, acusado de envolvimento na morte da juíza Patrícia Acioli. Patrícia foi executada com 21 tiros ao chegar em casa, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, em agosto. Ao todo, 11 PMs foram denunciados pelo Ministério Público como participantes da morte da magistrada. O tenente-coronel e um tenente foram transferidos na semana passada para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).
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