sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Velório de Niemeyer no Rio é aberto ao público no Palácio da Cidade (Postado por Lucas Pinheiro)

 Após a madrugada com cerimônia reservada para parentes e amigos, foi aberto ao público, às 8h30 desta sexta-feira (7), o velório de Oscar Niemeyer, no Palácio da Cidade, em Botafogo, na Zona Sul. O arquiteto morreu às 21h55 de quarta-feira (5), aos 104 anos, em decorrência de uma infecção respiratória, no Hospital Samaritano, no mesmo bairro.

Pouco antes de os portões serem abertos, o governador Sérgio Cabral, o vice Luiz Fernando Pezão e o prefeito Eduardo Paes entraram para uma breve cerimônia ao lado de familiares. Em seguida, dezenas de pessoas começaram a entrar. O caixão, coberto com uma bandeira do Brasil, está fechado e o rosto do arquiteto pode ser visto através de um vidro.

Entre as diversas coroa de flores recebidas pela família, estava uma em nome do cubano Fidel Castro.

O corpo do arquiteto voltou à cidade na noite desta quinta-feira (6), após um primeiro velório em Brasília. De acordo com o Terceiro Comando da Força Aérea Regional, o corpo chegou ao Aeroporto Santos Dumont às 22h08 e, em seguida, foi levado para o Palácio da Cidade, onde chegou às 22h35.

 A estudante de arquitetura Gisela Aguiar foi a primeira a chegar na fila para o velório do Oscar Niemeyer. Nascida em Brasília e moradora do Rio, ela contou que sempre admirou as obras do arquiteto.

"Ele fez aquelas edificações belíssimas em Brasília. E esta é uma forma de prestar uma homenagem a ele. Todos os professores admiram a obra dele e falam que a Catedral da capital federal e o Palácio do Planalto são lindos", contou a moradora do Flamengo.

O enterro está programado para o fim da tarde desta sexta, no Cemitério São João Batista, também em Botafogo.

A viúva Vera, o sobrinho Paulo, e o neto Carlos Oscar Niemeyer foram os primeiros a chegar ao Palácio da Cidade.

 Lembranças do neto
O neto contou que trabalhou com o avô durante 13 anos e lembrou dos ensinamentos que recebeu.

"Eu trabalhei com o Oscar durante 13 anos e aprendi com ele três coisas importantes. Ele dizia a vida é um segundo, isso quer dizer que a gente tem que viver uma vida bem vivida; falava também que o mundo é injusto, temos que modificá-lo; e que a palavra mais bonita é solidariedade", ressaltou o neto, acrescentando que "o Oscar teve uma vida de trabalho, de amizades, fazendo só coisas boas, então acho é normal que ele seja uma pessoa querida. Lá em Brasília estava todo mundo emocionado", concluiu Carlos Oscar.

Velório em Brasília
À tarde, segundo estimativa da Polícia Militar (PM) do Distrito Federal, 3,8 mil pessoas, em fila, passaram pelo Salão Nobre do Palácio do Planalto nas três horas e 45 minutos de velório.

A previsão era que o velório se encerrrasse por volta das 21h, mas a familia decidiu antecipar a volta ao Rio. Cerca de cem pessoas que aguardavam a passagem do caixão do lado de fora do palácio cantaram o Hino Nacional em homenagem a Niemeyer.

 Oscar Niemeyer completaria 105 anos no dia 15. Ele estava internado havia pouco mais de um mês.

No Planalto, Dilma e a viúva de Niemeyer foram as primeiras a se aproximar para observar o corpo. A tampa do caixão não foi retirada. Apenas uma abertura de acrílico permitia que se visualizasse a face do arquiteto.

O vice-presidente da República, Michel Temer, e os presidentes do Senado, José Sarney, da Câmara dos Deputados, Marco Maia, e do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, também foram se despedir de Niemeyer. Temer fez o sinal da cruz ao se aproximar do caixão.

Em seguida, se formou uma fila de autoridades no salão nobre do Planalto para prestar a última homenagem ao arquiteto famoso. A presidente Dilma se manteve o tempo todo, em pé, ao lado da cadeira onde estava sentada a viúva de Niemeyer.

Ministros de Estado, parlamentares, governadores e prefeitos que compareceram ao velório cumprimentaram Vera Lúcia e manifestaram palavras de apoio.

Por volta das 16h15, Dilma pediu que seu chefe de gabinete conduzisse a viúva ao terceiro andar do palácio, onde fica o gabinete presidencial. Em seguida, a própria presidente deixou o salão acompanhada da chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

O velório de Niemeyer é o terceiro realizado no Salão Nobre do Palácio do Planalto. O primeiro foi o do ex-presidente Tancredo Neves, em 1985. O segundo foi o do ex-vice-presidente José Alencar, no ano passado.

Luto oficial
Nesta quinta, Dilma Rousseff decretou luto oficial de sete dias. O decreto deverá ser publicado no "Diário Oficial da União" nesta sexta (7). Durante o período de luto, a bandeira nacional deve ser hasteada em meio mastro em todas as repartições públicas, estabelecimentos de ensino e sindicatos.

 A lei prevê que, no caso de morte de autoridades civis ou militares, o governo pode decretar luto de, no máximo, três dias. A lei prevê, porém, que "em face de notáveis e relevantes serviços prestados ao país" pela pessoa falecida, o período de luto poderá ser estendido até no máximo sete dias.

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, decretou luto oficial de sete dias pela morte do arquiteto.

MST
Um grupo de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) prestou uma homenagem a Oscar Niemeyer durante o velório do arquiteto no Palácio do Planalto.

Portando bandeiras, camisetas e bonés do movimento entraram na fila do público que deu o último adeus ao arquiteto. No momento em que entraram no Salão Nobre, os sem-terra se posicionaram diante do caixão para ler um manifesto. Ao longo dos cerca de três minutos de homenagem, os membros do movimento classificaram o idealizador dos principais monumentos de Brasília de “um sábio, solidário e comunista”.

 “Niemeyer foi mais do que um arquiteto, foi um amante da vida e um incansável defensor da igualdade entre todos os seres humanos. Era comunista, não por doutrina. Mas porque acreditava que todos os seres humanos são iguais e que deveríamos ter as mesmas condições de vida. Por isso, foi acima de tudo um companheiro de todos nós”, disseram os integrantes do MST.

Entre os cerca de 50 sem-terra que foram ao Planalto para se despedir de Niemeyer havia homens, mulheres e crianças. O grupo disse ter “imenso orgulho de ter sido amigo” do arquiteto famoso. Antes de deixar o salão, os sem-terra cantaram o hino da internacional socialista e aplaudiram Niemeyer.

Homenagens
De acordo com a assessoria do Planalto, foram enviadas 45 coroas de flores que serão doadas nesta sexta para uma instituição de assistência do Distrito Federal, a exemplo do que ocorreu após o velório do ex-vice-presidente José Alencar. Consultada, a família concordou com a doação.

Cortejo
O corpo de Oscar Niemeyer chegou a Brasília às 14h18 desta quinta-feira (6), trazido do Rio de Janeiro em um avião da Presidência da República, e seguiu em cortejo em carro aberto até o Palácio do Planalto, passando pelo Eixão Sul e pela Esplanada dos Ministérios, onde estão as principais obras do arquiteto na capital do país.

 Palácio do Planalto
O velório de Niemeyer ocorreu Palácio do Planalto, projetado pelo próprio arquiteto, por iniciativa da presidente Dilma Rousseff, que fez a oferta à família.

No prédio, inaugurado em 21 de abril de 1960, fica o gabinete da presidente Dilma Rousseff. A construção começou em 10 de julho de 1958.

A inauguração do palácio ocorreu em 21 de abril de 1960, como parte das festividades da inauguração de Brasília e marca a história brasileira por simbolizar a transferência da capital federal para o centro do País, no governo de Juscelino Kubitschek.

'Só falava em viver'
O médico Fernando Gjorup disse, na noite de quarta-feira, que Oscar Niemeyer conversou com a equipe médica sobre a vontade de realizar novos projetos, mesmo aos 104 anos. Segundo ele, o arquiteto só perdeu a consciência pela manhã, após ser sedado. O médico, que cuidou dele por 15 anos, afirmou que Niemeyer pouco falava sobre a saúde.

"Antes dessa internação, ele chegou a conversar com a equipe sobre novos projetos. Ele não gostava de falar sobre a saúde dele, mas sabia que já tinha passado da metade da vida. Ele nunca falou sobre morte, só falava em viver. A equipe médica tinha esperança, mas havia a fragilidade de um senhor de 104 anos", disse Gjorup.

Segundo a equipe médica, o arquiteto apresentou piora progressiva nos últimos dois dias. O arquiteto era submetido a hemodiálise e seu estado imunológico já era deficiente. Cerca de 10 familiares estavam na Unidade Coronariana do hospital quando Niemeyer morreu.

Repercussão
Em nota, a presidente Dilma Rousseff lamentou a morte de Niemeyer e disse que "poucos sonharam tão intensamente e fizeram tantas coisas acontecer como ele". "Niemeyer foi um revolucionário, o mentor de uma nova arquitetura, bonita, lógica e, como ele mesmo definia, inventiva". O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em nota divulgada pelo Instituto Lula, afirmou que Niemeyer "ficará sempre entre nós, presente nas linhas dos edifícios que plantou no Brasil e em todo o mundo".

Dezenas de outros políticos, arquitetos, artistas, apresentadores, jornalistas e personalidades brasileiras se manifestaram sobre a morte de Oscar Niemeyer.

Histórico de internações
O arquiteto foi internado várias vezes ao longo dos últimos anos. Em 2006, ele teve de ficar no hospital por 11 dias após sofrer uma queda e passar por uma cirurgia.

Em 2009, ficou internado por 24 dias no Hospital Samaritano, entre setembro e outubro, após sentir dores abdominais. Ele chegou a passar por uma cirurgia para retirar um tumor no intestino grosso, uma semana depois de ter sido operado para a retirada de um cálculo na vesícula.

Em junho do mesmo ano, o arquiteto foi internado no hospital Cardiotrauma de Ipanema, também na Zona Sul, queixando-se de dores lombares. Ele passou por uma bateria de exames e recebeu alta médica algumas horas depois. Na ocasião, exames de sangue e uma tomografia indicaram que Niemeyer estava apenas com uma lombalgia.

Em 2010, Niemeyer também foi internado em abril, devido a uma infecção urinária.

Em abril de 2011, o arquiteto ficou internado por 12 dias por causa de infecção urinária. Também já foi submetido a cirurgias para a retirada da vesícula e de um tumor no intestino.

Em maio deste ano, Niemeyer também esteve internado, quando deu entrada com desidratação e pneumonia. Depois de 16 dias, com passagem pela UTI, recebeu alta.

No dia 13 de outubro, o arquiteto deu entrada no Hospital Samaritano após sentir-se mal, apresentando um quadro de desidratação. Ele ficou internado por duas semanas.

A última internação foi em 2 de novembro, quando voltou ao Samaritano, seis dias depois de ter recebido alta. Desta vez, Niemeyer foi submetido a tratamento de hemodiálise e fisioterapia respiratória.

Trabalho para festejar 104 anos
Autor de mais de 600 projetos arquitetônicos, Niemeyer decidiu festejar os seus 104 anos do jeito que mais gostava: trabalhando em seu ateliê de janelas amplas diante da Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio.

Em agosto de 2011, ele lançou o livro "As igrejas de Oscar Niemeyer" (Editora Nosso Caminho), na galeria de um shopping da Zona Sul do Rio.

Embora ateu convicto, o arquiteto selecionou fotos e desenhos das 16 obras religiosas, entre capelas e igrejas, que realizou ao longo de sua carreira.

"As pessoas se espantam pelo fato de, mesmo sendo comunista, me interessar pelas igrejas. E a coisa é tão natural. Eu morava com meus avós, que eram religiosos. Tinha até missa na minha casa. E eu fui criado num clima assim. Esse passado junto da família me deixou com a ideia de que os católicos são bons, que querem melhorar a vida e fazer um mundo melhor", explicou na ocasião.

Destaque na arquitetura mundial
Niemeyer foi um dos arquitetos mais premiados e influentes do mundo. Seu trabalho, sempre cheio de curvas em concreto que tornavam seu estilo inconfundível, marcou a paisagem urbana do Brasil e de outros países.


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