A morte da nutricionista Priscila Boliveira, de 24 anos, durante um voo de parapente, em São Conrado, na Zona Sul do Rio, foi em decorrência de erro humano. Quem afirma é o diretor técnico da Associação Brasileira de Parapente (ABP), Arthur Lewis. Ao G1, ele disse não ter dúvidas de que a jovem estava presa ao equipamento apenas pelo peito, com as pernas soltas.
Priscila, irmã do ator Fabrício Boliveira, caiu de uma altura de cerca de 20 metros.
“Fica claro que o erro foi humano e que o piloto não conectou as pernas da passageira, e isso levou ao óbito. Qualquer praticante de parapente do Brasil olhando aquelas fotos e filmagem vê claramente que foi erro humano. Eu não estou achando, é uma constatação técnica”, afirmou Lewis após ver as imagens da jovem divulgadas na segunda-feira (26) durante o salto.
De acordo com Arthur Lewis, qualquer piloto de parapente, com dois meses de experiência, consegue perceber pelas imagens que houve falha humana. Para ele, Priscila começou a escorregar assim que deixou a rampa e não teria como se segurar apenas com o equipamento no peito: “Ela já estava pendurada já na saída da rampa. Ela foi pendurada até a praia, segurada apenas pelos braços dela e, provavelmente, do piloto, que tentou segurar e não conseguiu”, disse.
O diretor técnico da ABP apontou, ainda, outras falhas durante o salto de Priscila. Uma delas, segundo ele, foi o piloto prosseguir com o voo em direção à praia ao perceber que havia algo errado: “Ele deveria ter voltado com a passageira para a montanha, mesmo que corresse o risco de se chocar forte contra a mata, mas seria um risco menor do que ela cair daquela altura. Ele deveria ter criado um procedimento para tentar salvar a vida da passageira", disse.
Segundo Arthur Lewis, a outra falha do piloto foi ter realizado o voo com condições climáticas não favoráveis. As imagens mostram que havia neblina no momento da decolagem: “O piloto tinha que perceber que aquela condição meteorológica não era propícia, é o que a gente chama de ‘voar entubado’, ou seja, voar entre as nuvens. Não eram condições de voo duplo”, afirmou.
Procurado pelo G1, o Clube São Conrado de Voo Livre disse que só vai pronunciar durante uma coletiva de imprensa marcada para as 14h desta terça-feira.
O G1 tentou entrar em contato com o advogado do instrutor às 12h40 desta terça-feira, mas ele não foi encontrado para comentar o caso.
Instrutor não era homologado pela ABP
Arthur Lewis afirmou que o instrutor de voo que estava com Priscila não é homologado pela Associação Brasileira de Parapente, assim como o clube São Conrado Voo Livre não é filiado à entidade, apenas à Associação Brasileira de Voo Livre (ABVL). Ele disse que 70 dos 110 pilotos que usam a rampa da Pedra Bonita são de parapente, e que nenhum deles é homologado pela ABP.
“Eu vi que nenhum desses 70 pilotos é homologado pela ABP. Isso não é uma obrigação, mas acredito que a baixa procura se deve ao fato da associação cobrar procedimentos técnicos e no caso desses pilotos, fazemos uma série de exigências básicas, de segurança, que esses profissionais não têm. A atividade acabou se tornando um lugar de busca de dinheiro”, disse.
O diretor explicou ainda que, para realizar um voo duplo, é preciso de pelo menos cinco anos de prática no parapente. Depois, o piloto faz um curso durante um ano, voando sempre com outro profissional, nunca com passageiros. Após um teste prático, ele é homologado para voar com qualquer pessoa e em qualquer rampa do Brasil.
Jovem será enterrada em Salvador
O enterro da nutricionista está marcado para quarta-feira (28), em Salvador (BA), onde ela morava. O instrutor de voo Alan Figueiredo que acompanhava a jovem vai ser indiciado por homicídio culposo. Ele deve ser ouvido novamente na próxima sexta-feira (30).
Para o presidente da Associação Brasileira de Voo Livre (ABVL), Marcelo Silveira de Almeida, a legislação da atividade precisa mudar: “Eu acho que tem muita coisa para a gente mudar nessa parte de legislação, mas isso é uma coisa a longo prazo, para agora fica difícil, mas acho que dá para melhorar muito essa parte dessa atividade”, disse o presidente da ABVL, ao terminar de prestar depoimento na 15ª DP (Gávea), onde o caso está sendo investigado.
Em 2010, depois de acidentes ocorridos no Rio, o Ministério Público Federal pediu que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) fiscalizasse a atividade. Mas a Anac alega que, como parapente e asa delta não são certificados pela agência, ela não tem obrigação de fiscalizar.
O presidente da ABVL foi categórico ao comentar as fotos da jovem antes do salto. “Parece que houve uma quebra de sequência, a primeira decolagem foi abortada, na segunda decolagem as travas aparecem soltas, foi o que a gente pode ver. Na primeira, estava tudo conectado, na segunda estavam abertas, na foto”, afirmou.
Ele explicou que existem três travas, duas para as pernas e uma no peitoral. Segundo o presidente da ABVL, a própria associação, junto com o Clube São Conrado de Voo Livre, vai fazer a vistoria do equipamento.
O presidente do Clube São Conrado de Voo Livre, Carlos Trota, que também prestou depoimento nesta segunda, disse que o clube “está triste” e que foi aberta uma sindicância para apurar os fatos.
Travas soltas
O delegado disse que a decisão pelo indiciamento do instrutor partiu da análise das imagens, que mostravam as travas de segurança soltas. “Pelas imagens, percebe-se que a trava de segurança estava aberta. Mostrei para um instrutor e pessoas experientes e eles perceberam isso. Ele vai responder por homicídio culposo por negligência. A culpa foi dele que não travou a trava de segurança”, explicou o delegado. Homicídio culposo é aquele em que não há intenção de matar.
O delegado explicou ainda que o instrutor de voo é aguardado para prestar novos esclarecimentos à polícia até sexta-feira (30), quando será indiciado formalmente. Em depoimento no domingo, ele contou que tentou segurar Priscila com as pernas quando percebeu que ela estava caindo e que ela tinha se soltado da fivela de segurança. A vítima, de acordo com o depoimento do instrutor, caiu durante tentativa de aterrissagem.
A ABVL informou na delegacia que o instrutor era habilitado. Segundo o delegado, os diretores da ABVL e do clube afirmaram ainda que os equipamentos estavam em dia. "Vamos aguardar o laudo para ter certeza se o material estava em bom estado", explicou Fábio Barucke.
Priscila, irmã do ator Fabrício Boliveira, caiu de uma altura de cerca de 20 metros.
“Fica claro que o erro foi humano e que o piloto não conectou as pernas da passageira, e isso levou ao óbito. Qualquer praticante de parapente do Brasil olhando aquelas fotos e filmagem vê claramente que foi erro humano. Eu não estou achando, é uma constatação técnica”, afirmou Lewis após ver as imagens da jovem divulgadas na segunda-feira (26) durante o salto.
De acordo com Arthur Lewis, qualquer piloto de parapente, com dois meses de experiência, consegue perceber pelas imagens que houve falha humana. Para ele, Priscila começou a escorregar assim que deixou a rampa e não teria como se segurar apenas com o equipamento no peito: “Ela já estava pendurada já na saída da rampa. Ela foi pendurada até a praia, segurada apenas pelos braços dela e, provavelmente, do piloto, que tentou segurar e não conseguiu”, disse.
O diretor técnico da ABP apontou, ainda, outras falhas durante o salto de Priscila. Uma delas, segundo ele, foi o piloto prosseguir com o voo em direção à praia ao perceber que havia algo errado: “Ele deveria ter voltado com a passageira para a montanha, mesmo que corresse o risco de se chocar forte contra a mata, mas seria um risco menor do que ela cair daquela altura. Ele deveria ter criado um procedimento para tentar salvar a vida da passageira", disse.
Segundo Arthur Lewis, a outra falha do piloto foi ter realizado o voo com condições climáticas não favoráveis. As imagens mostram que havia neblina no momento da decolagem: “O piloto tinha que perceber que aquela condição meteorológica não era propícia, é o que a gente chama de ‘voar entubado’, ou seja, voar entre as nuvens. Não eram condições de voo duplo”, afirmou.
Procurado pelo G1, o Clube São Conrado de Voo Livre disse que só vai pronunciar durante uma coletiva de imprensa marcada para as 14h desta terça-feira.
O G1 tentou entrar em contato com o advogado do instrutor às 12h40 desta terça-feira, mas ele não foi encontrado para comentar o caso.
Instrutor não era homologado pela ABP
Arthur Lewis afirmou que o instrutor de voo que estava com Priscila não é homologado pela Associação Brasileira de Parapente, assim como o clube São Conrado Voo Livre não é filiado à entidade, apenas à Associação Brasileira de Voo Livre (ABVL). Ele disse que 70 dos 110 pilotos que usam a rampa da Pedra Bonita são de parapente, e que nenhum deles é homologado pela ABP.
“Eu vi que nenhum desses 70 pilotos é homologado pela ABP. Isso não é uma obrigação, mas acredito que a baixa procura se deve ao fato da associação cobrar procedimentos técnicos e no caso desses pilotos, fazemos uma série de exigências básicas, de segurança, que esses profissionais não têm. A atividade acabou se tornando um lugar de busca de dinheiro”, disse.
O diretor explicou ainda que, para realizar um voo duplo, é preciso de pelo menos cinco anos de prática no parapente. Depois, o piloto faz um curso durante um ano, voando sempre com outro profissional, nunca com passageiros. Após um teste prático, ele é homologado para voar com qualquer pessoa e em qualquer rampa do Brasil.
Jovem será enterrada em Salvador
O enterro da nutricionista está marcado para quarta-feira (28), em Salvador (BA), onde ela morava. O instrutor de voo Alan Figueiredo que acompanhava a jovem vai ser indiciado por homicídio culposo. Ele deve ser ouvido novamente na próxima sexta-feira (30).
Para o presidente da Associação Brasileira de Voo Livre (ABVL), Marcelo Silveira de Almeida, a legislação da atividade precisa mudar: “Eu acho que tem muita coisa para a gente mudar nessa parte de legislação, mas isso é uma coisa a longo prazo, para agora fica difícil, mas acho que dá para melhorar muito essa parte dessa atividade”, disse o presidente da ABVL, ao terminar de prestar depoimento na 15ª DP (Gávea), onde o caso está sendo investigado.
Em 2010, depois de acidentes ocorridos no Rio, o Ministério Público Federal pediu que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) fiscalizasse a atividade. Mas a Anac alega que, como parapente e asa delta não são certificados pela agência, ela não tem obrigação de fiscalizar.
O presidente da ABVL foi categórico ao comentar as fotos da jovem antes do salto. “Parece que houve uma quebra de sequência, a primeira decolagem foi abortada, na segunda decolagem as travas aparecem soltas, foi o que a gente pode ver. Na primeira, estava tudo conectado, na segunda estavam abertas, na foto”, afirmou.
Ele explicou que existem três travas, duas para as pernas e uma no peitoral. Segundo o presidente da ABVL, a própria associação, junto com o Clube São Conrado de Voo Livre, vai fazer a vistoria do equipamento.
O presidente do Clube São Conrado de Voo Livre, Carlos Trota, que também prestou depoimento nesta segunda, disse que o clube “está triste” e que foi aberta uma sindicância para apurar os fatos.
Travas soltas
O delegado disse que a decisão pelo indiciamento do instrutor partiu da análise das imagens, que mostravam as travas de segurança soltas. “Pelas imagens, percebe-se que a trava de segurança estava aberta. Mostrei para um instrutor e pessoas experientes e eles perceberam isso. Ele vai responder por homicídio culposo por negligência. A culpa foi dele que não travou a trava de segurança”, explicou o delegado. Homicídio culposo é aquele em que não há intenção de matar.
O delegado explicou ainda que o instrutor de voo é aguardado para prestar novos esclarecimentos à polícia até sexta-feira (30), quando será indiciado formalmente. Em depoimento no domingo, ele contou que tentou segurar Priscila com as pernas quando percebeu que ela estava caindo e que ela tinha se soltado da fivela de segurança. A vítima, de acordo com o depoimento do instrutor, caiu durante tentativa de aterrissagem.
A ABVL informou na delegacia que o instrutor era habilitado. Segundo o delegado, os diretores da ABVL e do clube afirmaram ainda que os equipamentos estavam em dia. "Vamos aguardar o laudo para ter certeza se o material estava em bom estado", explicou Fábio Barucke.
Nenhum comentário:
Postar um comentário