Passeio pelo Complexo do Alemão mostra que lugar é prato cheio para o turismo
Trilhas ecológicas e paisagens arrebatadoras aumentam apelo do teleférico
Até pouco tempo inacessível até mesmo para o poder público, o Complexo do Alemão tem tudo para entrar na rota do turismo no Rio de Janeiro, como a própria presidente Dilma Rousseff chegou a declarar em visita recente à comunidade. Nesta semana, o Jornal do Brasil esteve lá e fez um passeio guiado pelo complexo e pôde comprovar: simpatia digna de cidade do interior, trilhas ecológicas e paisagens arrebatadoras fazem do local um prato cheio para qualquer turista. O passeio no teleférico, claro, não pode ficar fora do roteiro.
"A pacificação e o teleférico fizeram todo mundo olhar para o Complexo do Alemão de uma maneira completamente diferente", explica Alberto Dias. Morador da comunidade e ex-paraquedista do Exército, ele guiou a reportagem por trilhas no meio da mata e por alguns pontos famosos das favelas. Entre belíssimas paisagens que o resto do mundo jamais pôde conferir graças ao domínio do tráfico de drogas na região, ele mostrou até a trilha usada por traficantes para fugir da Polícia Militar, numa das cenas mais marcantes do processo de ocupação. "Ninguém melhor do que o próprio morador da comunidade para ser guia turístico aqui, se o governo decidir apostar no pontencial do Complexo".
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De olho nesse potencial, a Secretaria Estadual de Turismo já iniciou um projeto de captação de guias nas comunidades e trabalha para identificar pontos turísticos no Complexo do Alemão. A TurisRio (Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro) e o Sebrae estão na fase inicial do projeto, que conta com o apoio da Casa Cultural Nossa Senhora da Piedade. Dentro da comunidade, o que não falta é gente de olho numa fatia do turismo. A intenção é incluir a região no Rio Top Tour, programa que já faz sucesso no Dona Marta.
Dono de uma vista privilegiada, Francisco Silva mora bem ao lado da Estação Alemão do teleférico. Do topo da sua casa, é possível ter uma vista panorâmica de todo o Complexo, o que já faz ele pensar em abrir o local para visitação.
"Logo que a estação abriu, eu já pensei nisso. Vou fazer uma reforma na minha laje, colocar umas cadeiras aqui, vender umas bebidas e comidas", comenta Francisco, animado em começar um negócio próprio. "Hoje estou desempregado e acho que isso pode ajudar bastante a minha família. A vista daqui é linda e o teleférico ajuda bastante a aumentar o movimento".
Belas paisagens e simpatia dos moradores
Quase oito meses após a ocupação do Complexo do Alemão, a comunidade é bem diferente. O cuprimento de "bom dia" em cada viela lembra o clima de uma cidade do interior, assim como as casas abertas e as crianças aproveitando as férias escolares nas ruas. São elas, inclusive, os principais clientes do teleférico. Diariamente, a garotada faz fila na porta das estações horas antes delas começarem a funcionar só para garantir uma volta na nova atração.
Com pinta de guia turístico, Alberto fazia questão de indicar alguns dos pontos famosos da região durante o passeio. Ele mostrou desde locais que ficaram famosos, como a bela trilha eternizada como rota de fuga dos traficantes durante a ação da Polícia Militar, até "celebridades" da comunidade, como Dona Efigênia. Aos 87 anos, ela é considerada a moradora mais antiga do Complexo.
"Aqui era só mato. Cheguei com 15 anos e não queria deixar ninguém construir casa aqui. Era só meu naquela época", brinca Efigênia. Sorrindo, ela lembra que ficou separada de suas irmãs por 40 anos porque o bonde que passava perto da casa delas parou de circular e ela não conhecia bem o Rio de Janeiro. Até hoje fã dos bondes, ela se nega a andar no teleférico. "Eu andava de bonde porque era nova. Não entro nesse negócio aí de jeito nenhum, eu morro de medo. Mas é bom ver as coisas aqui melhorando".
Apesar das melhorias, Alberto crê que o Alemão ainda está longe do ideal, mas espera que as atrações turísticas da região ajudem no crescimento.
"Todo mundo sabe que o tráfico continua aí, escondido. Mas as coisas estão bem melhores e o pessoal se sente mais seguro. O problema é que ainda falta muita coisa", lembra Alberto. Nas áreas onde o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não chegou, há pouca perspectiva de melhoria. Um dos exemplos é o Inferno Verde, um lixão a céu aberto no coração do Complexo. Antigo problema da comunidade, ele permanece como uma das áreas mais pobres do Alemão. "Há muita coisa para ser feita no Alemão ainda e o turismo pode ser a chave para ajudar os moradores. Além de emprego e renda, ele pode gerar infra-estrutura para quem mora aqui".
"A pacificação e o teleférico fizeram todo mundo olhar para o Complexo do Alemão de uma maneira completamente diferente", explica Alberto Dias. Morador da comunidade e ex-paraquedista do Exército, ele guiou a reportagem por trilhas no meio da mata e por alguns pontos famosos das favelas. Entre belíssimas paisagens que o resto do mundo jamais pôde conferir graças ao domínio do tráfico de drogas na região, ele mostrou até a trilha usada por traficantes para fugir da Polícia Militar, numa das cenas mais marcantes do processo de ocupação. "Ninguém melhor do que o próprio morador da comunidade para ser guia turístico aqui, se o governo decidir apostar no pontencial do Complexo".
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De olho nesse potencial, a Secretaria Estadual de Turismo já iniciou um projeto de captação de guias nas comunidades e trabalha para identificar pontos turísticos no Complexo do Alemão. A TurisRio (Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro) e o Sebrae estão na fase inicial do projeto, que conta com o apoio da Casa Cultural Nossa Senhora da Piedade. Dentro da comunidade, o que não falta é gente de olho numa fatia do turismo. A intenção é incluir a região no Rio Top Tour, programa que já faz sucesso no Dona Marta.
Dono de uma vista privilegiada, Francisco Silva mora bem ao lado da Estação Alemão do teleférico. Do topo da sua casa, é possível ter uma vista panorâmica de todo o Complexo, o que já faz ele pensar em abrir o local para visitação.
"Logo que a estação abriu, eu já pensei nisso. Vou fazer uma reforma na minha laje, colocar umas cadeiras aqui, vender umas bebidas e comidas", comenta Francisco, animado em começar um negócio próprio. "Hoje estou desempregado e acho que isso pode ajudar bastante a minha família. A vista daqui é linda e o teleférico ajuda bastante a aumentar o movimento".
Belas paisagens e simpatia dos moradores
Quase oito meses após a ocupação do Complexo do Alemão, a comunidade é bem diferente. O cuprimento de "bom dia" em cada viela lembra o clima de uma cidade do interior, assim como as casas abertas e as crianças aproveitando as férias escolares nas ruas. São elas, inclusive, os principais clientes do teleférico. Diariamente, a garotada faz fila na porta das estações horas antes delas começarem a funcionar só para garantir uma volta na nova atração.
Com pinta de guia turístico, Alberto fazia questão de indicar alguns dos pontos famosos da região durante o passeio. Ele mostrou desde locais que ficaram famosos, como a bela trilha eternizada como rota de fuga dos traficantes durante a ação da Polícia Militar, até "celebridades" da comunidade, como Dona Efigênia. Aos 87 anos, ela é considerada a moradora mais antiga do Complexo.
"Aqui era só mato. Cheguei com 15 anos e não queria deixar ninguém construir casa aqui. Era só meu naquela época", brinca Efigênia. Sorrindo, ela lembra que ficou separada de suas irmãs por 40 anos porque o bonde que passava perto da casa delas parou de circular e ela não conhecia bem o Rio de Janeiro. Até hoje fã dos bondes, ela se nega a andar no teleférico. "Eu andava de bonde porque era nova. Não entro nesse negócio aí de jeito nenhum, eu morro de medo. Mas é bom ver as coisas aqui melhorando".
Apesar das melhorias, Alberto crê que o Alemão ainda está longe do ideal, mas espera que as atrações turísticas da região ajudem no crescimento.
"Todo mundo sabe que o tráfico continua aí, escondido. Mas as coisas estão bem melhores e o pessoal se sente mais seguro. O problema é que ainda falta muita coisa", lembra Alberto. Nas áreas onde o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não chegou, há pouca perspectiva de melhoria. Um dos exemplos é o Inferno Verde, um lixão a céu aberto no coração do Complexo. Antigo problema da comunidade, ele permanece como uma das áreas mais pobres do Alemão. "Há muita coisa para ser feita no Alemão ainda e o turismo pode ser a chave para ajudar os moradores. Além de emprego e renda, ele pode gerar infra-estrutura para quem mora aqui".
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